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Entre tempos II

Texto da Exposição Entre temposII - Meta Miami, Miami - 2023

I_Parede

 

Na Parede as telas estão tendo uma conversa. Estão dispostas em uma grade ortogonal imaginária, que aparece também em algumas de suas linhas internas. Essas linhas são, muitas vezes, a ausência da cor, o branco da tela. A maior parte dos trabalhos têm apenas uma cor, em adição ao fundo branco da tela.

As pinturas não têm molduras. Suas laterais apresentam tamanhos diversos e, ora também pintadas, fazem parte do trabalho, como num objeto; não estão num plano imaginário apenas. Cortes e junções organizam os trabalhos; além deles, alguns objetos – pedras de calçada, lascas de madeira e outros – invadem o campo.

Pinturas, objetos, pintura-objeto. Conversam arte, mundo, vida.

 

 

II_Entre Tempos II

 

Esses trabalhos apareceram na pandemia. Com o medo e a necessidade de reclusão, proteção. Comecei a esticar, pregar e costurar tecidos nos trabalhos. A máscara cobrindo o rosto, nariz e boca. Tempo de rotinas infinitas.

Alguém isolado, olhando para fora da janela: cores quentes, cores frias. Uma paisagem lá fora, alguém lá dentro. Os tecidos e a costura trazem uma memória da tessitura, da roupa, do abrigo.

A costura é uma ação que constitui o trabalho: pode-se ver a linha.

 

Cada parte pode ter uma textura, um brilho, uma temperatura, uma cor. O linho pode estar preparado, cru, ao avesso; linho industrial tingido, tecidos de estofados, imitação de couro. Óleo sobre linho. A costura também pode aparecer pelo avesso. No avesso ela cria espaço, volume, corpo. É uma linha orgânica, como falava Clark.

 

O campo se divide em dois, três. Um lado pintado a óleo, outro apenas em tecido, o branco do fundo e o cru do avesso à vista. A tela se desdobra e finalmente o avesso da costura se projeta para fora do plano; ela se transformou num lugar onde panos cortados se cobrem, se unem com costuras e são esticados sobre a tela ou diretamente no chassi. Cortes, costuras, abraços.

 

 

III

 

Meu trabalho tem esse cerne que é a passagem do espaço ao plano e vice-versa. Da visada da escultura no espaço ao desenho no plano do papel nos 80, das telas com volume nos anos 2000 aos Blocos de pintura no espaço.

Hoje as pinturas estão na parede e se abrem pela costura, seu avesso e sua dobra, projetando-se no espaço.

 

Elizabeth Jobim

Elizabeth Jobim

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