Sem título, 2011
Óleo sobre tela, 50 x 70 cm
Foto: Pat Kilgore
Paisagens Airadas
Taisa Palhares
Horizontais: Elizabeth Jobim - Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo - 2007
Talvez pudéssemos interpretar, de forma um tanto quanto simplificada, a passagem do desenho à pintura na produção dos últimos anos de Elizabeth Jobim como a transformação da natureza-morta em paisagem. Naturalmente não penso aqui numa concepção tradicional destes gêneros. Sabemos que os arranjos de pedras presentes como o “assunto” dos desenhos da artista na verdade respondiam às questões diversas: da incompletude e transitoriedade da percepção à dialética entre espaço interno e externo das coisas. No entanto, a meu ver, mesmo em trabalhos constituídos pela montagem de folhas de papel (2000/2001), conserva-se uma certa intimidade, uma estruturação que ainda parece extremamente marcada pela inconstância do olhar, pela indistinção entre a interioridade do sujeito e do objeto, engendrando mundos prestes a desabar, como observou uma vez Paulo Venancio Filho.
Tais arranjos foram ampliados e passados para tela. E o que vejo são paisagens, vistas fragmentadas de uma arquitetura penetrada pelo ar. Seu ritmo horizontal e descentralizado remete ao recorte de um mundo sólido mas que só pode ser apreendido através da agregação descontínua de suas partes. Esse espaço não parece mais viver sob a ameaça de uma força centrípeta. Ele se exteriorizou e se expande na planaridade airada do branco.
Em comparação às pinturas apresentadas em 2005, a produção recente da artista parece explorar de forma concentrada a conquista deste novo espaço. As massas de cor azuis estão mais presentes, aumentando o ritmo de alternação entre dilatação e contração. Sua transparência agrega um tempo moroso ao desenvolvimento horizontal e expansivo do quadro, absorvendo por mais que alguns instantes o nosso olhar. Elas flutuam e são ao mesmo tempo contidas pelas linhas ou pelas bordas, que as mantêm estáveis, mas pulsantes. A opacidade do cinza, novo elemento da pintura, parece responder, principalmente no grande tríptico de 2006, à dialética que orienta a espacialidade dos trabalhos. Ele instaura uma relação entre duas cores que, em seu entrelaçamento de formas, travam um diálogo particular. Sem se sobreporem umas às outras, elas vão tecendo a arquitetura aberta dos quadros.
Voltando à paisagem, com certeza não se trata aqui da vontade objetiva de apreensão do mundo exterior ou da organização da natureza de forma mais ou menos verossímil. Diante das construções leves e sólidas de Elizabeth Jobim, recordo-me da amplitude das fachadas de Alfredo Volpi ou da dilatação espacial dos céus movediços de Guignard. Uma noção de espaço que se encontra num lugar indefinível entre a utopia da harmonia entre o mundo natural e a arquitetura, o espaço privado do habitante e o espaço público da cidade, e a experiência expansiva e bastante concreta de um fim de tarde de verão em frente ao mar.